As Danças




O Samba de Roda
O samba de roda começou provavelmente nos tempos da colonização, quando os negros na sua primeira pausa para descanço, dançaram á moda da sua terra. O ritmo contagiante do samba marcado por palmas e passos excitantes fez com que, aos poucos, o samba saisse da senzala e fosse para as ruas e até para a casa dos brancos. Hoje, o samba de roda é frequnte nos mais diversos festejos.
A dança do samba de roda em si é considerada simples, mas é preciso muito molejo para realizar com os pés ou passos marcados com as mãos. Existem passos especificos da roda que representam divesas atividades do cotidiano, como por exemplo, o corta jaca, paço no qual o sambista representa com os pés o ato de cortar uma jaca. Cada ação é representada por um conjunto especificos de movimentos, pempre marcados pelas palmas dos outros sambistas. Outros exemplos são o miudinho, amarrado, barra-vento e sapateado.A daça acontece quando ao som de samba forma-se uma roda com um sambista ao centro que apresenta sua ginga, dançando por algum tempo. Logo ele desafia um componente da roda com um sinal como uma umbigada ou um simples aperto de mão, que toma o seu lugar no meio da roda. Tudo transcorre ao som de marimbas, violas, pandeiros, ganzás, atabaques, berimbaus e outros instrumentos de percussão. Mas, o samba não deixa de acontecer por falta de instrumentos pois o improviso é muito frequente e até mais original.


Puxada de Rede A pesca do Xaréu 
A pesca do xaréu é um episódio de trabalho, de canseiras, mas, como todo episódio árduo da vida dos negros baianos é também de beleza, de poesia, de música e de cantos. De outubro a abril, os xaréus vão para o norte em grandes cardumes para a desova, procurando climas mais quentes para os pescadores das praias dos subúrbios de Salvador lançam-se à sua tarefa. Em Chega Negro, em Carimbamba e no Saraiva cumprem os mesmos trabalhos dos seus antepassados, trabalhos que vêm dos tempos da colônia, do império, da república até nossos dias. E esta tradição não morre, mesmo porque dela depende a subsistência de centenas de famílias, todos os anos se repetem, com os mesmos cerimoniais, com os mesmos rituais, podemos dizer, com que se procedia nos tempos passados.Não se pense, porém, que tudo seja fácil, uma exibição apenas. É trabalho árduo, trabalho pesado que representa a firme disposição do homem do mar. Comecemos pela rede. A turma de uma puxada compõe-se de nada menos de sessenta e três homens: um chefe, um mestre da terra, um mestre do mar, vinte catadores, vinte homens da terra e vinte homens do mar. E a rede é feita na colônia pelos próprios pescadores, eles, suas mulheres, seus filhos que se empreitam para tecer a grande malha, utilizando um mundo de matérias primas para a sua execução; tonelada e meia de fio grosso e forte, mil metros de cordas, meia tonelada de chumbo que ainda será derretido e trabalhado. Com este material e com cinco meses de trabalho, paga por braça, a rede está pronta.

Para se começar os trabalhos da pesca alguns fenômenos da natureza são considerados. É a crença entre os pescadores que os melhores dias para a pesca são os de lua cheia, porém em ocasiões em que os peixes desaparecem, aguardam-se o quarto minguante. O vento também é considerado, sendo em direção leste o que mais dificulta. O vento Leste “não presta porque suja a água”; os peixes desaparecem. Em algumas comunidades, seguindo a tradição, escolhem a véspera de um dia Santificado para armar a rede, sendo denominado puxada obrigatória e é realizada mesmo que não haja peixe. Antes de colocar a jangada no mar, um sacerdote procede a benção da rede. Após essa cerimônia entoam os pescadores ajoelhados na areia a ladainha de Todos os Santos (ou as preces aos orixás africanos).Antes de tudo, porém, antes de a rede ser levada para o mar, em torno do grande círculo, mar a dentro as jangadas levam enormes blocos de cimento. Feitos pelos próprios pescadores, ligados a grandes filames de aço e dispostos em torno do local onde a rede ficará. Depois os filames são presos a uma grande e imensa corda, que, por sua vez, será ligada à rede. Somente assim esta poderia fixar-se, poderia resistir aos embates do mar forte, não sofrer os estragos das ondas. É um trabalho demorado, um trabalho requerendo paciência, perseverança e extraordinária habilidade. Desde que está tudo pronto, desde que o mestre do mar assegura que a sua turma realizou sua tarefa, pela qual ele é responsável, então é esperar que os cardumes dêem o seu passeio procriador e caiam na rede, deliciem a mesa dos pobres e também dos ricos que tenham gosto para sentir as delícias de seu lombo farto. Mas, ninguém se iluda, seja paciente como o pescador. Tudo depende da sorte, os homens estão atentos, tanto os da terra como os do mar, tudo depende do peixe. A pesca pode ser imediatamente depois da rede assentada, mas pode durar horas, pode durar um dia e até dois no máximo. Porque se depois de dois dias o xaréu não aparecer, tem que se puxar a rede que sofreria assim com os efeitos da água. Compete ao mestre do mar efetuar as sondagens. Ele como que tem o sexto sentido. Logo que percebe que o xaréu está entrando, mergulha profundamente e faz a contagem do peixe. Emerge da primeira vez, toma do seu apito enfeitado com as cores de Iemanjá, sopra fortemente e levanta o seu chapéu no ar. O chefe da terra está atento. Ao leigo poderá parecer um cumprimento. Nada disso, o mestre da terra sabe muito bem que, com esse gesto, o mestre do mar avisa que no seu primeiro mergulho, "contou" quinhentos peixes. Mergulha novamente, novamente, e de agora em diante, cada vez que levantar o chapéu são mais cem peixes
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Acabada a contagem, há o apito característico para que se inicie a puxada da rede. Então o mestre da terra apita também para reunir o seu pessoal, começar o serviço. Já foram cortadas as cordas que prendiam a rede aos filames. Tudo está pronto, todos estão a postos. A máxima atenção, a precaução maior dominam os homens do mar, prontos para qualquer imprevisto. E a corda ao redor da rede, que forma quase um círculo gigantesco, começa a ser puxada de seu lado esquerdo. Os vinte homens da terra iniciam a sua tarefa pesada. Força, poder, vitalidade do corpo humano aí vão apresentar-se com toda sua exuberância. Mas é preciso salientar que não há preocupação pelo peso da tarefa, há alegria do trabalho representado na contribuição mais bela desse conjunto de homens fortes e saudáveis. E eles cantam, porque o canto ajuda o homem. É um canto alegre de uma grave alegria, canto dos negros baianos, porque há sempre música e canto, tanto nas suas festas como nas suas tarefas. E iniciando a puxada da rede, batem os atabaques, quarenta pés, num ritmo rigoroso de bailado, movimentam-se e sob o canto obrigatório para começar.Os primeiros metros da corda da rede vão caindo na praia. Nas suas jangadas, os homens do mar fiscalizam, evitam qualquer imprevisto. O bailado da puxada prossegue na praia, sob o bater dos atabaques, sob o canto de vinte homens, trazendo para seu trabalho mais do que as cantigas porventura aliviadoras da tarefa, mas, sobretudo os cantos de seus deuses e de seu passado. E assim vai vindo a rede, horas inteiras, sob o sol castigando os dorsos nus. Vez ou outra alguém quebra o ritmo do "balé", então vem a manobra protetora, o pescador deixa por um segundo a corda, dá uma graciosa volta em torno de si mesmo e retoma seu lugar, dentro do movimento comum. Sucedem-se as canções, prestam homenagens à rainha das águas, se houver sucesso na pesca darão lembranças à Iemanjá, cantos que lembram as noites alegres das farras ao luar, a branquinha campeando, cantos mostrando a solidariedade desta gente...Quando a rede está perto, os homens do mar deixam as suas jangadas, pisam o chão firme, caem na água, tendo a cabeça e os ombros de fora, auxiliam agora os da terra. O "cope" que é uma espécie de rede interna, está repleto de xaréus grandes e pequenos. O mundo de fios, chumbos e cordas são cuidadosamente trazidos e, por fim, na areia, revelado o resultado da pesca. Podem ser milhares de peixes, centenas de belos xaréus, conforme revelou antecipadamente o mestre do mar. Mas também, pode-se puxar uma rede que se sabe de antemão nada trazer. Um dia, dois, perdidos. O dono da rede terá seu prejuízo, prejuízo total. Os que assistiram a puxada, que maravilhados assistiram o belo espetáculo não estarão a par de suas aperturas. Mas se a pesca foi farta, tudo vai bem. A rede é cuidadosamente refeita pelos atadores, que procuram os menores estragos, abrem-na sobre a areia, enquanto já está pronta para ser lançada no dia seguinte.Estão cansados os pescadores: o chefe, os mestres, homens do mar, homens da terra, os atadores. Tranquilos, porém, comentam o sucesso ou o insucesso da pesca, recebem a refeição trazida pelas suas mulheres, pelos seus filhos, semi-nus, molhados, integrados numa profissão que futuramente será a deles.E mais uma vez, o mistério das colinas da Bahia desce às praias. E revela-se na própria vida do seu povo, no seu próprio trabalho, nas suas próprias canseiras, revestidas de tanta música pura, de tão nativa e forte poesia.

Maculelê e sua História


O maculelê é uma arte de luta com profundas ligações à capoeira. Qualquer mestre de capoeira deve saber praticar o maculelê, uma vez que este nasce no seio da luta quilombola e capoeirista. É uma luta dançada ao som do atabaque e dos cânticos em português ou em kimbundu. É particularmente popular na cidade de Santo Amaro na Bahia, e exibida nas festas de Nossa Senhora da Purificação, que tem lugar a cada dia 2 de Fevereiro, precisamente a mesma data em que é celebrada em Salvador da Bahia a Festa de Yemanjá, a deusa dos mares.O maculelê tradicionalmente destina-se a praticantes masculinos, relembrando o carácter guerrilheiro da dança. Em relação às suas origens não há grandes certezas, embora se afirme que terá evoluído do cucumbi, um antigo folguedo (festa popular) africano, e se desenvolvido durante o século XVIII nos canaviais de Santo Amaro. A tradição do maculelê em Santo Amaro está registada no jornal local «O Popular» do dia 10 de Dezembro de 1873: “Faleceu no dia primeiro de dezembro a africana Raimunda Quitéria, com a idade de 110 anos. Apesar da idade, ainda capinava e varia o adro (terreno em volta) da igreja da Purificação, para as folias do Maculelê”
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Com o início do século XX o maculelê perdeu grande parte dos seus mestres, deixando de figurar nas festividades de Santo Amaro. Em 1943, Paulino Aluísio de Andrade, conhecido como Popó do Maculelê, um dos poucos mestres sobreviventes (motivo que originou o título de “pai do maculelê”), criou o Conjunto de Maculelê de Santo Amaro, que reunia amigos e familiares, instruídos por ele com base nas suas memórias do maculelê da sua infância e adolescência. Através dos estudos de Manoel Querino, no início do século XX, conhecemos a possibilidade do maculelê ter nascido do cucumbi, uma dança afro-indígena onde os praticantes batiam paus cilíndricos (chamados no maculelê de grimas) acompanhandos por cantares. Num maculelê mais avançado as grimas são substituídas por facões ou catanas, mais próximo da sua feição guerreira.Há uma lenda associada ao nascimento do maculelê, lenda diferente daquela que a coloca nos engenhos de Santo Amaro. Segundo ela, Maculelê era um negro fugido que padecia de doenças de pele, que foi acolhido pelos indígenas brasileiros e tratado por eles. Apesar de ter sido integrado na comunidade não podia participar de todas as actividades da mesma. Certo dia Maculelê foi deixado na aldeia enquanto os homens saíram em caçada. Foi nesse momento que uma tribo rival atacou o vilarejo onde Maculelê tinha sido acolhido. Sozinho Maculelê debateu-se contra o grupo invasor e saiu vencedor, tornando-se num herói da tribo. A dança maculelê seria então uma homenagem à heróica vitória do negro Maculelê, uma recriação do acontecimento.Hoje em dia, o Maculelê se encontra integrado na relação de atividades folclóricas brasileiras e é freqüentemente apresentado em exibições de grupos de capoeira, grupos folclóricos, colégios e universidades. Contudo, convêm registrar as observações feitas por Augusto José Fascio Lopes, o Mestre Baiano Anzol, ex-aluno do mestre Bimba e professor de Capoeira na Universidade Federal do Rio de Janeiro: “...neste trabalho de disseminação, o Maculelê vem sofrendo profundas alterações em sua coreografia e indumentária, cujo resultado reverte em uma descaracterização. Exemplo: o que era originalmente apresentado como uma dança coreografada em círculo, com uma dupla de figurantes movimentando-se no seu interior sob o comando do mestre do Maculelê, foi substituído por uma entrada em fila indiana com as duplas dançando isoladamente e não tendo mais o comando do mestre. O gingado quebrado, voltado para o frevo, foi substituído por uma ginga dura, de pouco molejo.A estética do maculelê que consiste no ritmado tocar das grimas ao som dos cânticos e dos atabaques, tem fortes similitudes com o frevo do Pernambuco, o Moçambique de São Paulo, o Cana-Verde de Vassouras (Rio de Janeiro), o Bate-Pau do Mato Grosso e o Tudundun do Pará, para não falar na Dança de Kali das Filipinas.Deve-se reconhecer que não só o Maculelê, mas todas as manifestações populares vivas ficam sempre muito expostas a modificações ao longo do tempo.








 O coco de roda 






Dança tradicional do Nordeste, o Coco de Roda tem sua origem na
união da cultura negra com os povos indígenas no Brasil. Apesar de
frequente no litoral, acredita-se que o Coco surgiu no interior,
provavelmente no Quilombo dos Palmares e, a partir do ritmo
originado da quebra dos cocos pelos escravos para a retirada da
amêndoa, com sua dança e tradição musical cantada, tornou-se um
modo privilegiado de transmissão e manutenção do conhecimento e
da tradição popular.
No entanto, devido à sua origem nas camadas oprimidas e
marginalizadas da nossa sociedade, o Coco sempre sofreu a
discriminação dos meios de comunicação das classes dominantes. Assim, a difusão e a manutenção do Coco
como expressão cultural deve-se unicamente à sua resistência.
É enfrentando essas dificuldades que os mestres coquistas passam grande parte de suas vidas sem apoio,
apesar de sua arte, além de possuir valor histórico, é fruto de uma entrega incondicional e de uma riqueza
cultural que persistente através dos tempos.
Jackson do Pandeiro, por exemplo, um dos artistas mais célebres do Coco, que começou sua carreira
acompanhando sua mãe nas rodas de cocos enquanto tocava zabumba, morreu pobre e até hoje seu talento é
desprezado pela grande mídia, apesar de ser referência nacional para vários artistas que alcançaram o
estrelato.
Por sua vez, as leis de incentivo à cultura nunca colocaram o Coco como prioridade nas ações e projetos
considerados de interesse público. Também, a maioria dos grandes espetáculos promovidos com o dinheiro do
povo não tem o Coco como foco das ações. Mesmo assim, esses órgãos gastam altos cachês e investimentos
na propaganda de uma “cultura de massa” voltada para o lucro.
Apesar desta realidade, são cada vez mais notáveis as iniciativas populares para promover a valorização do
Coco de Roda e resgatar essa tradição popular. Com frequência, vemos aumentar a realização de Sambadas,
numa ação que pretende levar à juventude a valorização das vivências culturais que fortalecem a identidade
popular.
Projetos como O Coco do Amaro Branco, que envolve mestres e discípulos de um coco tradicional há mais de
100 anos em Olinda, agora tem tido o Coco de Roda levado adiante como a Sambada Divina, organizada no dia
24 de Março pelo Coletivo Bacurau, e que levou aos jovens do Recife uma alternativa de qualidade e difusão de
talentos da música popular como o Grupo Sagaranna – novo grupo de música popular a desabrochar na cena
pernambucana – apresentando o trabalho do Mestre Zé de Vina e seus Mamulengos vindos de Lagoa de
Itaenga-PE e o talento da Mestra Dona Cila do Coco – Olinda.
Fernanda Toscano, Recife 
fonte: http://averdade.org.br/2012/04/coco-de-roda-origem-e-resistencia/

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